sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A COP 16 chega ao fim.

A 16ª. Conferência das Partes sobre Mudanças do Clima da ONU (COP 16) chega ao fim sem um acordo entre países para a redução de emissões. Mesmo assim, é possível fazermos um balanço positivo desta conferência. É que ficou claro, neste encontro, que os governos querem de fato chegar a um acordo. Mas o processo de diálogo e entendimento é longo. Nesse sentido, Cancún apresentou avanços em relação a Copenhague. Afinal, 194 países sentaram-se à mesa para tentar chegar a um consenso e isso representa um progresso, já que muitos governos não se comunicam fora da conferência do clima.

A COP 16 pode ser considerada um estágio muito importante de um processo global de diálogo e busca de consenso que deve culminar na Rio + 20, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Ela vai se realizar no Rio de Janeiro, em 2012, 20 anos depois da Conferência de 1992, e terá como missão renovar o compromisso dos líderes mundiais com o desenvolvimento sustentável do planeta.

De certo modo, as atenções mundiais já estão voltadas para 2012 e dá para sentir aqui em Cancún que cresce a expectativa de que “acordo mesmo”, só em 2012.

Quanto às empresas e ONGs, elas estavam do outro lado da cidade, na Cancún Messe, o pavilhão que abrigou as empresas e a sociedade civil organizada. Lá, também houve muitas discussões, mas neste caso elas avançaram para propostas concretas, sobre como tratar a água, por exemplo, ou como mudar a forma de consumo.

Um dos temas mais discutidos – e que constitui uma das preocupações centrais da sustentabilidade – foi a questão dos limites do planeta – como cuidar da água, da biodiversidade, das riquezas naturais, enfim, como fazer emergir uma nova ecnomia, verde e inclusiva, que encaminhe a refundação da nossa civilização em novas bases.

A contribuição brasileira

O Brasil sobressaiu-se por apresentar proposta concreta de redução de emissões. O decreto que regulamenta a Política Nacional de Mudanças do Clima, assinado ontem pelo presidente Lula, foi anunciado em Cancún pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, como um grande feito, graças às metas ousadas que propõe, como reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020.

Por outro lado, vale ainda lembrar que as empresas brasileiras também são destaque, por apresentarem ao mundo a única iniciativa concreta de compromissos voluntários de redução de carbono, influenciando governos e políticas públicas e abrindo diálogo com todos os setores da sociedade. Estou me referindo ao Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas.

Mas, o Brasil promete ser o país para onde devem convergir esperanças e propostas sobre desenvolvimento sustentável, não só pela Rio + 20, como também um evento que vai marcar a união global pela sustentabilidade, num espaço em que todas as tendências da sociedade poderão se manifestar e propor ações concretas para uma sociedade mais justa e inclusiva, além de sustentável.

Por Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, de Cancún, México

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Instituto Ethos lança projeto Jogos Limpos para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016

Nos próximos cinco anos, empresas, setor público e sociedade vão ser chamados a participar de ações e compromissos em favor da transparência e da integridade nas relações de mercado e com governos. O investimento previsto é de US$ 3 milhões e conta com apoio da Siemens Integrity Initiative.

São Paulo, dezembro de 2010 – Para buscar maior transparência e integridade nas obras de infraestrutura da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o Instituto Ethos lançou, no último dia 10 de dezembro, o projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios, com apoio da Siemens Integrity Initiative, um projeto mundial do Grupo Siemens, resultante de acordo com o Banco Mundial, que visa combater a corrupção por meio de ações coletivas, educação e treinamento.

Por meio de ações coletivas, monitoramento e controle social, o projeto Jogos Limpos almeja aumentar o nível de transparência e de controle social dos gastos públicos, bem como o nível de integridade nas relações entre os governos e o setor privado.
O engajamento de empresas, organizações da sociedade civil e órgãos de governo nas ações será feito por meio da promoção de quatro acordos de integridade em setores estratégicos, cujas demandas por obras e serviços serão ampliadas em função dos dois grandes eventos: Construção Civil, Saúde, Transporte e Energia.

A iniciativa abrangerá as doze cidades-sede da Copa, incluindo o Rio de Janeiro, sede das Olimpíadas de 2016. O projeto visa também a elaboração de indicadores de transparência, que servirão para orientar cidadãos e ONGs a respeito da conduta ética das empresas e do setor público em relação à legislação, bem como de informações sobre obras e equipamentos e dados sobre os compromissos dos acordos setoriais.

Prefeitos – O projeto Jogos Limpos ainda prevê ação específica voltada para as eleições municipais de 2012, articulando, nas cidades-sedes da Copa, compromissos de todos os candidatos com a prestação de contas, a transparência e o controle social sobre os orçamentos e os gastos dos municípios.

Para promover o exercício do controle social dos cidadãos e das ONGs sobre os gastos públicos e a conduta das empresas, o projeto Jogos Limpos vai desenvolver ferramentas como: uma página na internet; a publicação Jogo Limpo x Jogo Sujo; o guia Como Ler Contratos; um canal de denúncias; e indicadores de transparência.

Ainda estão previstas, entre outras atividades, a realização de seminários nacionais e regionais sobre integridade e transparência e a mobilização em prol da aprovação dos projetos de lei “Acesso à Informação” e “Responsabilização de Pessoas Jurídicas por Atos de Corrupção” e um terceiro, sobre a regulamentação do lobby.

O projeto Jogos Limpos, Dentro e Fora dos Estádios terá duração de cinco anos.

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Código Florestal: redes sociais contra votação do projeto

A tentativa de votação do substitutivo do Código Florestal (Projeto de Lei 1876/99), que ocorreu no dia 07, na Câmara, como noticiamos (Leia Código Florestal pode ser votado), deu início a uma grande mobilização nas redes sociais, organizada por importantes movimentos ambientais como o Greenpeace do Brasil, o ISA – Instituto Socioambiental e a WWF- Brasil. O intuito é suspender o pedido de regime de urgência para a pauta.

O efeito multiplicador dessa mobilização é grande e já contagia gestores da área ambiental e políticos e o tema promete esquentar os ânimos nos próximos dias. A Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em Cancún, onde participa da COP16, também afirmou estar surpresa e preocupada com a possibilidade da votação.

Entre as mensagens postadas no Twitter e no Facebook, há solicitações para que os internautas encaminhem e-mails para o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT/RS). As mensagens também dão conta de que os movimentos estão alertas a manobras de ruralistas, que são a favor do texto do novo Código e que também será divulgada a lista dos deputados que, em 2010, foram a favor da votação.

Em agosto deste ano, uma comissão especial da Casa havia dado parecer favorável ao projeto. Já no dia 1º de dezembro, o deputado Sandro Mabel (PR-GO) pediu regime de urgência e colocou como argumento ‘a finalização favorável do relatório do parecer do deputado Aldo Rebelo e a relevância social da matéria’.

Para acompanhar a tramitação do PL nº 1876/99, é só acessar o site da Câmara.

Fonte: Planeta Sustentável

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Dilemas e reflexões sobre a COP 16

Jorge Abrahão, direto de Cancún

Esta COP 16 está sendo um aprendizado para mim, em vários temas, não apenas sobre clima. O fluxo de informações é constante.

Uma das peculiaridades desta conferência é o choque, às vezes criativo, às vezes explosivo, entre as diferentes maneiras de abordar a realidade que os setores sociais aqui presentes têm. Vivemos os dilemas deste choque. Estes diferentes modos de pensar poderiam estar integrados, pois assim, avançaríamos mais rapidamente. Mas, a verdade é que nem mesmo o local escolhido pela ONU para a realização da COP 16 favorece a integração.

Cancún é uma extensa praia ocupada por enormes hotéis e resorts de luxo, muito afastados uns dos outros e todos bem longe do centro da cidade, onde mora a população local. É também um paraíso de consumo, e quando falamos de mudanças climáticas, precisamos pensar em mudanças de hábitos. .

A configuração geográfica da cidade parece que aprofundou as diferenças entre os diversos setores que deveriam dialogar. O Moon Palace, hotel oficial da COP 16, fica a 8 km de distância do Cancún Messe, onde as ONGs montaram sua exposição e as empresas apresentam seus projetos. Além disso, há encontros espalhados pelos hotéis da cidade. As pessoas circulam pelos diversos locais, mas não há atividades conjuntas – mesmo protestos, como em Copenhague – que ressaltem o que governos, empresas e ongs têm em comum.

Em Cancún, a distância geográfica é uma metáfora para a distância lógica entre as partes. Se quisermos sair daqui com alguns avanços em relação a Copenhague, temos realmente um longo caminho a percorrer, com os pés e com as cabeças.

Observo que os governos baseiam-se no princípio da soberania nacional para tomar decisões. Este princípio, construído ainda nos tempos de guerra fria, é francamente reativo e calcado no individualismo, na defesa e na desconfiança. Os governos estão pensando o SEU problema sem a generosidade de pensar o todo. No entanto, se os humanos dividiram a Terra em países, não temos como dividir a atmosfera que é de todos e está sendo poluída.

Empresas e ONGs respodem a este desafio global porque elas atuam globalmente; e, embora ainda não de forma integrada, têm feito pressão e provocado os governos a irem mais à frente do que poderíamos supor.

A própria ONU tem se utilizado da capacidade de pressão de ONGs e empresas para convencer governos a avançar nas negociações de alguns acordos.

É necessária a integração entre todas as partes e isto representa um desafio para empresas e ONGs que não estão habituadas a pensar e agir em grupo, de maneira coordenada.

Nesse sentido, a iniciativa brasileira do Fórum Clima torna-se cada vez mais importante e necessária. Como já comentei aqui, o Fórum Clima foi constituído por empresas que, em 2009, pouco antes da COP 15, assumiram voluntariamente metas de redução de carbono, anunciando publicamente este compromisso, por meio da Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças do Clima. Na mesma carta, os signatários incentivaram a que o governo brasileiro também adotasse metas de redução de emissões, dando exemplo a outros governos. Isto de fato ocorreu: o governo brasileiro anunciou metas de redução de carbono entre 36 e 38%, até 2020 e, em dezembro de 2009, sancionou a Política Nacional de Mudanças do Clima.

As empresas signatárias da Carta Aberta constituíram, então, o Fórum Clima, para monitorar suas próprias ações e contribuir com as políticas nacional e regionais do país.

Pelo que tenho verificado em Cancún, este é o único caso concreto de ação integrada sobre mudanças do clima, em que sociedade e empresas pressionam, o governo acata a pressão e o tema avança.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sustentabilidade e os modos à mesa

Para o sociólogo Claude Fischler, do Centro Edgard Morin da École de Hautes Etudes en Sciences Sociales, de Paris, não é por acaso que, durante milênios, comemos em grupo, seja como iguais ou como parte de uma hierarquia.

Esses encontros cumprem uma série de funções sociais, como a definição de quem pode ou não participar da refeição, a parte que cabe a cada comensal, a posição à mesa, a ordem em que cada um é servido. Essas funções estão presentes tanto em refeições mais elaboradas e rituais, como a cerimônia do chá japonesa, ou numa roda de amigos beliscando petiscos num boteco. As refeições também definem a passagem do tempo (as coisas acontecem antes ou depois do jantar) e o posicionamento de um indivíduo na sociedade (o uso dos talheres indica o grau de educação e o extrato social de origem).

Foto de Chris Makarsky via Flickr
Em contraste, quem come sozinho geralmente é visto como alguém solitário e incapaz de se relacionar. Para Fischler, que é assessor do Ministério Francês da Agricultura, é como se ele tivesse negada a sua condição humana. Quem come em restaurantes de fast food, na frente do computador ou com a orelha grudada ao celular não presta atenção ao que põe no prato. Também não está sujeito à pressão social que impõe uma boa dieta e modos à mesa. Tem mais chances de comer inadequadamente e, em decorrência, está mais propenso à obesidade e ao diabetes.

Fischler declarou recentemente, numa conferência, que o ato de comer sem reflexão ou rituais tira do alimento o seu sentido. “Somos o que comemos – o que somos se não sabemos o que comemos?”, pergunta o pesquisador. Não é de surpreender que um sociólogo francês, nascido na pátria do Slow Food, pense nesses termos. Mas suas idéias fazem eco em outras paragens.

A norte-americana Laurie David, produtora do filme “Uma Verdade Inconveniente”, que ganhou o Oscar em 2007, e uma militante conhecida pela luta anti-aquecimento global, tem levantado essas mesmas questões. Ela acaba de lançar “The Family Dinner: Great Ways to Connect With Your Kids, One Meal at a Time” (O Jantar de Família: Grandes Soluções para se Conectar com seus Filhos a cada Refeição), um livro que discute, justamente, a sustentabilidade da comensalidade.

Assim como Claude Fischler, ela insiste no papel civilizatório das refeições. Ela lembra, por exemplo, que à mesa melhoramos o nosso vocabulário e desenvolvemos a nossa capacidade de debater. “Tudo no nosso modo de vida atual dificulta a interação com o outro”, disse Laurie, recentemente, ao website Grist. “Por isso é essencial recriar o ritual de colocar a mesa. É assim que aprendemos a ouvir e a conversar. E, quem sabe, talvez você use esse espaço para discutir questões internacionais e para aprender a ter consciência social”.

Você está cansado de saber que uma dieta local, orgânica e vegetariana é mais sustentável para o planeta. Mas o que dizer dos seus hábitos à mesa? Será que o almoço improvisado em frente à televisão é pior do que a macarronada familiar de domingo de um ponto de vista socioambiental? Muita gente acha que sim.
Fonte: Página 22

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

As mudanças do clima, os governos, as empresas e a sociedade

Mais uma Conferência das Partes sobre Mudanças do Clima está em andamento. Esta é a 16ª. e realiza-se em Cancún, no México. Estou participando pela primeira vez, como presidente do Instituto Ethos, cargo que assumi em 8 de novembro último. Cheguei no sábado, dia 4, e após fazer minha inscrição, fui dar um giro pelos locais dos eventos. Estive primeiro na Cancún Messe, um grande parque de exposições onde centenas de ONGs do mundo inteiro literalmente montam suas tendas e mostram suas ações e suas lutas. Em seguida, fui ao Moon Palace, o majestoso hotel onde está ocorrendo a COP 16 propriamente, ou seja, as plenárias com representantes de governos. Cheguei no exato momento da concorrida entrevista do embaixador Luiz Figueiredo, chefe da delegação brasileira. Ele reafirmou o compromisso do país em reduzir suas emissões, independente de metas internacionais. Mesmo assim, não conseguiu desfazer a impressão geral da imprensa de que a COP 16 não produzirá nenhum acordo de envergadura.

Ontem, junto com outros representantes do Ethos, participei do encontro de grandes empresas, chamado Encontro dos Negócios na COP 16. Companhias internacionais, inclusive brasileiras, se reuniram para mostrar ações em avanços em vários temas cruciais para as mudanças do clima, como logística, inovação e racionalização no uso de recursos naturais.

Com apenas este dia, pude tirar algumas conclusões: os governos não vão mesmo conseguir fechar um acordo mais amplo sobre o enfrentamento às mudanças climáticas. O álibi tem sido a crise econômica. A verdade é que os representantes de governos não conseguem pensar para além de suas fronteiras e no longo prazo. A visão continua imediatista e de curto prazo. Ainda não “caiu a ficha” de que os problemas do aquecimento global não vão respeitar a geografia. Sem esta consciência não haverá acordo possível.

Por outro lado, verifiquei a criatividade e o engajamento das iniciativas das ONGs, que mobilizam milhões de pessoas no mundo inteiro em favor da mudança no modelo de nossa civilização. Constatei também a pujança dos projetos empresariais que, embora busquem velocidade na aplicação das soluções encontradas, visam o longo prazo. Todavia, percebi que tanto ONGs quanto empresas apresentam o mesmo problema: suas ações ainda são individuais, não convergem para um mesmo ponto coletivo: a necessidade de mudar o padrão de produzir e consumir e de construir uma nova sociedade.

Este cenário, ao contrário do que possa parecer, não me faz pessimista em relação às perspectivas de avanço de uma economia focada no enfrentamento das conseqüências das mudanças do clima, chamada genericamente de “economia de baixo carbono”, mas que o Ethos prefere dar nome mais abrangente: “economia verde, inclusiva e responsável.

Sou otimista porque, em primeiro lugar, em que pese o imediatismo dos governos, sociedade civil e empresas avançam a passos largos em mobilização e inovação. Em segundo lugar, porque o Brasil cada vez mais se firma como o palco das ações mais importantes e decisivas para a tomada de decisões sobre o aquecimento global.

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