quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sustentabilidade como motor do desenvolvimento industrial?

Pedro Passos, copresidente do Conselho de Administração da Natura Cosméticos, é o novo presidente do IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Estaria a entidade, até agora mais preocupada com juros e câmbio, mudando de paradigma e aderindo ao desenvolvimento sustentável?


Pedro Passos é um dos empresários brasileiros mais inovadores e bem-sucedidos da geração que iniciou os negócios nos anos 1970. Junto com Guilherme Leal e Luiz Seabra, consolidou a Natura Cosméticos como empresa de classe internacional e sustentável.
Passos foi escolhido para comandar o Iedi com o objetivo de pôr a sustentabilidade na pauta do desenvolvimento industrial brasileiro. Trata-se de uma importante mudança de paradigma numa entidade que tem entre seus membros representantes de setores tradicionais da indústria, normalmente refratários às teses do desenvolvimento sustentável.
O Iedi foi criado em 1989 por um grupo de empresários como resposta ao cenário dos anos 1980, de baixo investimento industrial e desemprego crescente. Estes industriais brasileiros resolveram criar um instituto privado porque entendiam que pensar o desenvolvimento de seu país é uma importante e indelegável tarefa para cumprir com a Nação. Estudou e formulou recomendações de aperfeiçoamentos e reformas em muitas áreas, como abertura e integração comercial com o resto do mundo, competitividade, educação, estrutura tributária, financiamento do desenvolvimento econômico, políticas de desenvolvimento regional e de apoio à micro e pequena empresa, política tecnológica, dentre outros. Apresentou ao governo e à sociedade propostas de política de desenvolvimento industrial para o Brasil. Ultimamente, vem se debruçando sobre a questão externa, publicando vários trabalhos sobre juros e câmbio.
A escolha de Pedro Passos para comandar a entidade no próximo biênio reforça a posição dos setores industriais que pregam a troca dos temas nos debates sobre desenvolvimento industrial. Em vez de discutir se os juros podem cair mais, refletir qual a agenda da indústria para o século 21, num cenário de dilemas mais profundos do que aqueles que levaram à própria fundação da entidade. O que está em jogo é qual indústria que queremos e precisamos para dar conta de superar nossas desigualdades sociais e garantir o equilíbrio ambiental com crescimento econômico. Por já ter encontrado soluções criativas em seu próprio negócio, Pedro Passos parece ser a pessoa indicada para dirigir uma entidade que tem tido grande influência na definição dos caminhos da industrialização recente do país.
No âmbito institucional, Passos acredita que a questão ambiental precisa ser equacionada e, com isso, impulsionar o desenvolvimento da indústria no Brasil. No plano internacional, ele prega uma posição mais ativa e menos conservadora do país, buscando posicionar-se com destaque nas discussões a respeito das mudanças climáticas.
Para Copenhague, Passos não acredita que o Iedi possa ser muito decisivo, uma vez que dezembro está bem próximo. Mas, para 2010, ele acredita que a entidade possa novamente influenciar o debate sobre sustentabilidade em todas as candidaturas.
Um dado importante: Pedro Passos não vê dicotomia entre sustentabilidade e custo. Para ele, desenvolvimento sustentável é exercício de cidadania, não de cálculo de custo. Trata-se de definir o país que queremos para o século 21, os custos vêm depois.

Comentário feito por Sérgio Mindlin em 21 de setembro de 2009, no boletim Responsabilidade Social, transmitido pelo programa CBN Total da rádio CBN FM, ás segundas, quartas e sextas-feiras, às 15 horas. Clique aqui para ouvir.

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AES Eletropaulo: Compromisso com a integridade vai aos parceiros de negócio

Não é difícil nem exige grandes investimentos difundir uma cultura de integridade numa empresa. Verifique o exemplo da AES Eletropaulo que tem um programa envolvendo funcionários e parceiros de negócios que trouxe os seguintes resultados: melhoria da avaliação externa da AES Eletropaulo nos indicadores de responsabilidade social; clima organizacional mais positivo e funcionários mais otimistas e positivos em relação ao próprio desenvolvimento e ao crescimento do negócio; parceiros de negócio mobilizados contra as práticas de corrupção nos negócios, levando a cultura da integridade para as suas próprias cadeias produtivas.

Como a AES Eletropaulo tem feito para comprometer estes públicos de interesse?

Na AES Eletropaulo, a ética tem sido uma prática diária e contínua, que permeia toda a organização e é medida por meio de inúmeros indicadores amplamente divulgados internamente, auditados. A ética também integra o mapa estratégico da empresa e é premiada. Desde 2008, os funcionários que se destacam na prática dos Valores da Companhia recebem um prêmio das mãos do Presidente, são reconhecidos e homenageados publicamente, além de terem suas histórias contadas em artigos mensais na revista interna do grupo, com tiragem de 10.000 exemplares/mês.
Essas práticas se estendem às demais empresas do grupo AES no Brasil e integram o programa mundial de Ética e Compliance do grupo AES, empresa de energia presente em 26 países nos 5 continentes, com receita líquida de US$ 16.1 bilhões em 2008, 30.000 empregos diretos, atendendo 100 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, a AES Eletropaulo atende a 5,7 milhões de usuários e a AES Sul a 1,1 milhão. Juntas, as empresas do grupo no Brasil tiveram uma receita líquida superior a R$ 11,4 bilhões em 2008 e um lucro líquido consolidado de R$ 1,7 bilhão.
Esta cultura de valores é amplamente difundida por meio de inúmeros treinamentos sobre Ética e Valores da empresa para os funcionários e fornecedores.
No plano interno, mensalmente, os líderes se reúnem com suas equipes para a “Preleção de Ética”, quando são aprofundados os conceitos sobre o uso adequado de internet e e-mail, como tratar as questões de ofertas de presentes e entretenimentos, anticorrupção, entre outros.
Um dos pilares dessa cultura é a prática das “due diligences” de Compliance em relação aos potenciais fornecedores e parceiros de negócios do grupo AES. Com o auxílio de inúmeras ferramentas de pesquisa, um grupo de profissionais, exclusivamente dedicados a esta tarefa, verifica se os potenciais fornecedores e parceiros de negócios têm algum histórico relacionado a “fraude”, “corrupção”, “suborno”, “lavagem de dinheiro” e itens afins, que possam vir a representar um risco potencial às operações e à imagem da AES no Brasil ou no mundo. Caso seja encontrado algum “Alerta de Compliance”, serão efetuadas investigações mais aprofundadas, concomitantemente com pedidos de esclarecimentos e declarações por parte dos envolvidos.
As pesquisas não se limitam à pessoa jurídica objeto da potencial contratação, estendendo-se à figura de seus sócios, acionistas e principais executivos que terão interação nos negócios. Quanto mais complexa a operação, ou quanto maior a exposição, mais aprofundadas e detalhadas as pesquisas.
Terminadas as pesquisas, são efetuadas as análises de risco, que embasarão as decisões finais. As operações consideradas de alto risco (tais como todas as operações que envolvem interação com funcionários públicos, órgãos governamentais, representantes, agentes e afins) passam, necessariamente, pelo crivo e aprovação final da matriz, nos Estados Unidos.
Além disso, os potenciais fornecedores respondem um Questionário de Compliance, que contém perguntas referentes à propriedade do parceiro de negócios, a estrutura de gestão, a transação em potencial, além de declarações expressas relacionadas a leis e regulamentações anticorrupção, anti-lavagem de dinheiro e antifinanciamento do terrorismo.
Todos os contratos e pedidos de compra contêm cláusulas que exigem dos parceiros de negócio o cumprimento das leis e regulamentações de combate à corrupção e outros crimes, inclusive: as relacionadas à Convenção da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento – OCDE para combate à corrupção de funcionários públicos, a Lei norte-americana contra as Práticas Corruptas Estrangeiras (“FCPA”) e demais legislações aplicáveis.
Em 2008 foram analisadas 1356 operações, totalizando US$ 2,480 milhões. Do público total de 21.027 pessoas treinadas em 2008 pela Diretoria de Ética e Compliance, 271 colaboradores internos foram treinados em “Compliance Contratual”. Além disso, 150 empresas fornecedoras também foram treinadas, representando um público externo de 21pessoas, entre sócios e responsáveis pelas áreas de compra dessas empresas.
Até abril de 2009, 1143 colaboradores desses fornecedores já foram treinados para conhecer um pouco mais a respeito da importância da ética e integridade em suas atividades diárias e do impacto nas relações comerciais.

Comentário feito por Ricardo Young no dia 16 de setembro de 2009, no boletim Responsabilidade Social, transmitido pelo programa CBN Total da rádio CBN FM às segundas, quartas e sextas-feiras, às 15 horas. Clique aqui para ouvir.

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Liderança empresarial para um mundo em mudança

A sociedade e os negócios precisam de novos líderes para gerir um mundo em transformação. Passada a pior fase da turbulência, as empresas agora buscam líderes socialmente responsáveis, que se preocupam com o jeito como a companhia vai obter bons resultados, não apenas com os lucros. Esta demanda já está produzindo efeitos nas escolas de administração e na própria maneira de as empresas buscarem talentos no mercado.


John Wells, presidente da escola suíça de negócios IMD, veio ao Brasil recentemente para divulgar a instituição entre os executivos brasileiros, explica por que o IMD está mudando a grade: porque os desafios sociais, econômicos e ambientais estão mais complexos; porque a confiança nas instituições desabou com a crise financeira e não será recuperada se elas continuarem agindo “do jeito antigo”. Também porque o mundo enfrenta o desafio das mudanças climáticas e os negócios precisam mudar, querendo ou não. Para Wells, o novo líder deve ter um perfil mais parecido com Che Guevara do que com Jack Welch: ser duro e agressivo, sem perder a “humanidade”. Não parece uma paráfrase da famosa frase “endurecerse siempre sin perder la ternura jamás!”?
Para Wells, será cada vez menos possível ocorrer fatos como a promoção de um gerente industrial que gerou maior rentabilidade simplesmente porque atrasou a manutenção dos equipamentos. A nova liderança emergente consideraria este atraso simplesmente um “roubo” da base física de ativos. O mesmo se dá com os funcionários. É ainda comum um executivo fazer carreira bem-sucedida explorando os membros da equipe e atuando pouco para desenvolvê-lo. Do ponto de vista da gestão sustentável, isto é “roubo” da base de ativos. Assim também como é roubo esconder lucros de balanços em anos bons para alavancar anos ruins.
O desafio para as empresas é criar sistemas que desencorajem essas práticas e líderes com visão sistêmica para enfrentar novas condições de mercado. Por isso, o IMD está mudando sua grade curricular: para formar lideranças que possas comandar transformações organizacionais baseadas na transparência, na ética e em valores como justiça social e equilíbrio ambiental.
No Brasil, recentemente, o Ministério da Educação divulgou dados mostrando que o número de faculdades reprovadas – notas entre 1 e 2 – aumentou de 31% em 2007 para 38% em 2008. As notas são baseadas num índice chamado IGC (índice geral de cursos) que faz um cruzamento entre o desempenho dos alunos no Enade, a qualificação dos professores (número de doutores) e as notas dos cursos de pós-graduação. Com isso, dos quase cinco milhões de alunos do ensino superior, 737 mil estudam em cursos considerados ruins. Este fato faz aumentar a proliferação de profissionais com conhecimentos insuficientes que serão contratados para gerir empresas, ONGs, entidades de classe e órgãos de governos num dos momentos mais desafiadores da história do país e da humanidade: a transição de uma economia baseada em matriz fóssil que produziu miséria e devastação, para outra verde, inclusiva e responsável. O Brasil vai necessitar de um esforço titânico para superar estas desvantagens. Mas há luz no fim do túnel e ela vem dos participantes do Prêmio Ethos-Valor de Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável.
Os trabalhos finalistas vieram dos quatro cantos do país e trazem reflexões e práticas consistentes sobre sustentabilidade, que podem ser aplicadas nas imediatamente. Mais uma prova de que, como dizia o escritor Vítor Hugo “Nada é tão poderoso no mundo como uma ideia cuja oportunidade chegou”

Comentário feito por Ricardo Young no dia 16 de setembro de 2009, no boletim Responsabilidade Social que é transmitido pelo programa CBN Total da rádio CBN FM, às segundas, quartas e sextas-feiras, às 15 horas. Clique aqui para ouvir.

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Dilemas entre negócios convencionais e marcos regulatórios "verdes" no Brasil

Ainda não é uma atitude geral, mas algumas instâncias de governos (estaduais e/ou municipais) começam a multar pesadamente as grandes empresas por descumprimento das leis de reciclagem já aprovadas.

Na capital paulista, empresas da área de bebidas e de petróleo e gás foram multadas por descumprirem a lei que obriga as empresas a recolher 50% das embalagens que usam em seus produtos.
No Paraná, as maiores fabricantes de lâmpadas no país também receberam pesadas multas por não darem destinação correta a seus produtos.
Certas ou erradas, as regulações estão avançando e as multas demonstram que as empresas tentam resistir a elas. Por que não repensar o negócio e verificar onde existem novas oportunidades? A Tetrapak já fez isso internacionalmente e hoje consegue reutilizar 25% dos materiais reciclados em sua produção, além de ter criado toda uma cadeia produtiva que gera renda e trabalho pela coleta, separação e reutilização dos elementos que compõem a embalagem. É da empresa a invenção da tecnologia de plasma que separa o alumínio, o papel e o plástico, dando destinação correta a cada um deles.
Por que resistir aos marcos regulatórios? Não é melhor participar para melhorá-los, pensando em toda a sociedade?

Comentário feito por Ricardo Young em 14 de setembro de 2009, no boletim Responsabilidade Social do programa CBN Total, transmitido pela rádio CBN FM às segundas, quartas e sextas-feiras, às 15 horas. Clique aqui para ouvir.

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Estará chegando o tempo da energia eólica no Brasil?

Um estudo elaborado pela Eletrobrás pode contribuir decisivamente para impulsionar o uso de energia eólica no Brasil. Sua aplicação sempre foi considerada “cara”, mas o levantamento prova o contrário: a energia eólica é mais barata que as usinas térmicas a gás e a diesel.

O investimento inicial é alto, mas bastam dez dias para ele começar a ser mais compensador do que o investimento feito em energia térmica. E o estudo ainda demonstra que a geração de energia eólica precisa de dois meses para ficar mais barata do que aquela gerada por outras fontes.
Será que esta constatação feita pela própria Eletrobrás vai finalmente incentivar a elaboração de um plano de longo prazo para utilização em larga escala da energia eólica?
Atualmente, ela representa menos de 1% da matriz energética nacional, com potência instalada de 547 megawatts / ano. As usinas localizam-se principalmente no Nordeste e no sul do país, locais onde o regime de ventos é mais propício a este tipo de atividade. Até o final de 2010, estima-se que o potencial instalado chega a 1300 megawatts /ano. A capacidade instalada no Brasil hoje é de pouco mais de 100 mil megawatts e vai chegar a 130 mil megawatts em 2013.
A hidreletricidade representa, hoje, com 80% da matriz energética. Os restantes 20% estão divididos entre usinas térmicas a carvão, diesel e gás, (12%), pequenas centrais e fontes alternativas (8%).
Antes da divulgação deste estudo, previa-se para 2013, o crescimento das térmicas tradicionais de 12 para 21% na participação da matriz; e de 4,5% das pequenas centrais – cuja geração virá da biomassa. As hidrelétricas tradicionais deverão recuar sua participação para 69% e a energia eólica deverá manter seu percentual de participação em torno de 1%.
Estes dados são preocupantes porque mostra uma tendência de “sujar” a matriz energética, justamente num momento em que é preciso investir alto em fontes que nos levem a uma economia de baixo carbono. Se as usinas têm baixo custo de instalação, sua manutenção é cara e tende a se tornar cada vez mais cara, porque será preciso controlar as emissões de poluentes. Por sua vez, como mostra o estudo da Eletrobrás, a energia eólica é uma alternativa competitiva e que, até o momento, não está sendo considerada com o devido cuidado.
Se todo o potencial eólico brasileiro fosse convertido em energia, teríamos a geração de 272 terawatts / hora por ano (1 terawatt = 1 trilhão de watts), ou a metade do nosso consumo anual.
E mais (como somos um país de sorte!): nossos períodos de seca, quando os reservatórios estão baixos, coincidem com as épocas que os melhores ventos sopram por aqui. Assim, se tivéssemos usinas eólicas instaladas, poderíamos usá-las, em vez de queimar combustível e sujar o meio ambiente, com as térmicas (a opção disponível para estas ocasiões).
Agora que já se sabe que o custo não é impeditivo, tomara que os governos adotem programas de incentivo à ampliação da capacidade instalada da energia eólica, visando desde a pesquisa tecnológica até a formação de profissionais e o engajamento de empreendedores no setor.
Comentário feito por Ricardo Young em 9 de setembro de 2009, no programa CBN Total, transmitido pela rádio CBN FM às segundas, quartas e sextas-feiras, às 15 horas. Clique aqui para ouvir.

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Empresa informal e sustentabilidade

Para cada empresa formal no país, existem duas informais, de acordo com o SEBRAE Nacional. Este dado não revela totalmente a extensão de um problema que perdura e de cuja solução depende, inclusive, a sustentabilidade dos negócios, da economia e da sociedade. A informalidade precisa acabar se quisermos um país mais justo e solidário de fato.

O poder público pode acabar com a informalidade – e, ao fazê-lo, aumentar a arrecadação para, quem sabe, diminuir a carga tributária individual neste país. E as empresas formais também, principalmente aquelas engajadas no movimento da responsabilidade social empresarial. Mas o problema é maior do que a economia de países como o Egito e a Colômbia. Vamos por partes.
Empresa informal é a quase totalidade das micro e pequenas empresas brasileiras. De acordo com o levantamento do IBGE denominado Ecinf – Economia Informal Urbana), existem 10,5 milhões de PMEs no Brasil, das quais 98% (ou 10,3 milhões) encontram-se na informalidade. O SEBRAE considera informal a empresa que não tem contabilidade própria. Pode até possuir CNPJ, mas se as contas do negócio não estão separadas das contas da família, não é empresa formal.
Os setores onde mais atuam são comércio e reparação (33%), construção civil (17%) e indústria de transformação e extrativa (16%). Trata-se de um universo composto por vendedores, costureiras, pintores, encanadores e todos os tipos de profissionais sem definição específica que geram 25% das contratações urbanas e uma produção cujo valor, em 2006, de acordo com a FGV, atingiu 600 bilhões de reais. Este montante gerou riquezas equivalentes a um PIB de 248 bilhões de dólares. Pelo dólar médio de 2006, isto equivale a um PIB de 102 bilhões de dólares, maior do que toda a economia do Egito e da Colômbia. A renda média do empresário informal é de R$ 1042,00 reais.
Esta economia precisa deixar a sombra e entrar nas estatísticas oficiais.
A formalidade incentiva a modernização da gestão, a transparência nos negócios e o trabalho decente em toda a cadeia produtiva. As grandes empresas podem contribuir para que isto ocorra com mais agilidade. Durante o Programa Tear, por exemplo, uma das maneiras encontradas por empresas da cadeia produtiva da Vale, por exemplo, foi comprar antecipadamente serviços de fornecedores informais para garantir os recursos necessários às despesas da formalização. Com isso, estas empresas, antes informais, puderam ampliar seus negócios. Ainda existem entraves burocráticos, mas a Lei Complementar 123/06, que criou o Empreendedor Individual, vem ampliando a adesão dos microeempreendedores aos negócios formais. Por esta medida, trabalhadores com renda média anual até 36 mil reais / ano que atuam em pequenos negócios informais - como pipoqueiros, cabeleireiros, manicures e camelôs - podem se filiar ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) contribuindo com uma alíquota de 11% sobre o salário mínimo. Em troca da contribuição, esses trabalhadores terão direito aos benefícios previdenciários - como auxílios, pensão por morte, salário-maternidade e aposentadoria por idade ou por invalidez - excetuando a aposentadoria por tempo de contribuição. A lei também permite aos microempreendedores com atividades ligadas à indústria e comércio ter isenção dos impostos federais e, a título de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), haverá também uma cobrança reduzida. Para os microempreendedores prestadores de serviço, também haverá isenção dos tributos federais, mas caberá a cada prefeitura decidir sobre a isenção do ISS.
Comentário feito por Sérgio Mindlin, em 4 de setembro de 2009, no boletim Responsabilidade Social do programa CBN Total, transmitido pela rádio CBN FM às segundas, quartas e sextas-feiras, às 15 horas. Clique aqui para ouvir.

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Desmatamento na Amazônia diminuiu em julho?

As manchetes dos principais jornais de hoje trazem a notícia de que o desmate da floresta amazônica caiu ao menor nível desde o início de sua medição, em 2004, pelo método mais rápido, em áreas acima de 6.5 hectares, via satélite em tempo real. Mesmo assim, o abate de árvores registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE equivale à extensão da cidade de Campinas. Há o que comemorar e o que criticar.

A comemoração vai para os compromissos públicos assumidos pelas empresas para deter o desmatamento. Como destaque, vale mencionar os pactos da soja e da carne, na iniciativa Conexões Sustentáveis, nos quais as empresas-âncora dessas cadeias produtivas não compram produtos oriundos de áreas de desmate.
Outras iniciativas que também estão surtindo efeito positivo são a Moratória da Soja, em que os grandes compradores mundiais de grãos comprometem-se a não comprar o grão cujo plantio seja feito em zonas do arco do desmatamento, e o Grupo de Trabalho pela Pecuária Sustentável, uma mesa-redonda que reúne todos os integrantes da cadeia da carne para discutir como adaptar o negócio da pecuária ao parâmetros da sustentabilidade.
Ao contrário da maioria, no entanto, encaminho minhas críticas não às obras dos governos federal e estaduais – que têm seu papel no desastre, claro – mas ao Executivo e ao Parlamento que aprovaram a MP 458 (“da Grilagem”).
Pelo relatório do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon, as cidades críticas na derrubada da floresta são justamente aquelas que integram o chamado “arco do desmatamento” e que, até a aprovação da MP 458, tinham suas atividades estritamente vigiadas pelos fiscais do IBAMA, por agentes da Polícia Federal e até de unidades do Exército. Com a entrada em vigência da lei, houve afrouxamento do controle estatal e um surto de grilagem para obter a regularização fundiária.
Se o mecanismo de REDD – Redução de Emissões pelo Desmatamento e Degradação já estivesse operando, é bem possível que a Amazônia e nós todos já estivéssemos livres da motosserra. Por este mecanismo, que será discutido em Copenhague, na reunião do clima, no final do ano, os países com largas extensões de florestas tropicais poderão receber um fluxo contínuo de recursos de mais de 30 bilhões de dólares para preservá-las. Os recursos podem, por exemplo, virar um tipo de “bolsa-floresta” pago às comunidades que não desmatarem. Porque, é preciso dizer, as árvores são cortadas por quem mais precisa delas – as comunidades locais. E elas realizam esta atividade por necessidade extrema de sobrevivência. Interessante notar que as áreas recém-desmatadas apresentam frenética atividade econômica. A partir do momento que a madeira se esgota, a miséria de sempre volta. O desmatamento produz uma falsa noção de riqueza para os moradores locais, que vai embora bem rápido, junto com os verdadeiros agentes que lucram com a atividade.
O futuro da floresta está ameaçado, a menos que a sociedade brasileira conscientize-se e lance mobilização por um projeto consistente de desenvolvimento sustentável que inclua o desmatamento zero não como utopia, mas como motor do crescimento econômico com equilíbrio ambiental e justiça social.

Comentário feito por Ricardo Young em 2 de setembro de 2009, no boletim Responsabilidade Social, que vai ao ar no programa CBN Total, transmitido pela rádio CBN FM às segundas, quartas e sextas, às 15hs. Clique aqui para ouvir.

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Incineração de lixo gera energia elétrica e negócios

Um dos problemas ambientais mais sérios de qualquer cidade, no Brasil e no mundo, é a poluição por resíduos sólidos, ou lixo. Na capital paulista, por exemplo, os caminhões de coleta recolhem 10 mil toneladas de lixo diariamente, que vão aterros já saturados e distantes do centro. Distância e quantidade de lixo a recolher vem tornando a atividade um desafio logístico para as empresas. Uma solução já adotada em algumas cidades do mundo pode ser a construção de usinas de energia elétrica gerada pela queima deste lixo.

A incineração de lixo sempre foi proibida por causa do carbono que despejava no ambiente. Hoje, graças a uma moderna técnica – o plasma térmico -, este calor não virá fumaça, pelo contrário, pode ser utilizado para movimentar turbinas de usinas de energia elétrica. A cidade de Ottawa, no Canadá, está construindo um equipamento assim. A instalação será capaz de transformar 400 toneladas de lixo em 21 megawatts de energia, suficientes para suprir uma cidade de 20 mil habitantes. Em vez de fogo, usam-se tochas de plasma ultraquente que transformam o lixo num gás que impulsiona as turbinas geradoras de eletricidade, e resíduos sólidos que são utilizados na indústria de cimento ou para pavimentar vias públicas. O investimento necessário para uma usina assim está calculado em torno de 125 milhões de dólares (ou pouco menos de 300 milhões de reais).
É um procedimento, portanto, que não tem nada a ver com o aproveitamento do gás metano, gerado pelo lixo depositado nos aterros. Por este novo sistema, não haverá mais aterros e sim usinas de eletricidade. Os resíduos coletados passarão por uma triagem para separação dos materiais recicláveis. Aqueles não-recicláveis serão incinerados para gerar energia elétrica.
A adoção deste sistema no Brasil é mais do que uma alternativa. É uma necessidade. Metrópoles como São Paulo já não têm mais áreas disponíveis para aterros sanitários. A capital paulista produz 10 mil toneladas de lixo diariamente que são levados para terrenos cada vez mais distantes, encarecendo o processo. No litoral paulista, por exemplo, durante a temporada de verão, o lixo precisa subir a serra para ser depositado em um dos aterros da região metropolitana.
O Brasil domina a tecnologia do plasma térmico para outras finalidades que não a geração de energia elétrica. O principal avanço obtido nos países onde se emprega este método é obter o gás que vai impulsionar as turbinas a temperaturas inferiores a mil graus centigrados.
Incentivos fiscais e investimentos privados podem acabar com esta defasagem tecnológica.
A adoção da incineração vai exigir, no entanto, um árduo trabalho de articulação entre as partes interessadas, incluindo a área pública. Isto porque, no papel, incinerar lixo ainda é mais caro do que recolher e dispor em aterros. Hoje, a prefeitura de São Paulo, para dar um exemplo, paga 40 reais por tonelada de lixo recolhido e disposto em aterro. Para haver a incineração, seriam necessários 200 reais por tonelada. A falta de terrenos para aterro tende a tornar viável a incineração com geração de energia.
Mas, uma conversa em as distribuidoras de energia, as empresas coletoras de lixo, a sociedade e os órgãos públicos pode resolver os impasses. Uma das primeiras medidas que as empresas de engenharia e construção – que dominam a área de resíduos sólidos –demandam a criação de um regime tributário especial para a incineração. Também pretendem agilizar a tramitação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (cujo gargalo, vale ressaltar, é a questão da co-responsabilidade da cadeia produtiva na geração e destinação do resíduo).

Comentário feito por Ricardo Young no programa CBN Total de 31 de agosto de 2009. Clique aqui para ouvir.

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Fórum de Empregabilidade da Pessoa com Deficiência

Sérgio Mindlin comenta a importância da constituição de um fórum de empregabilidade da pessoa com deficiência. A proposta foi discutida em evento realizado na sede da Serasa Experian, em São Paulo, e aguarda a adesão de mais empresas.


Foi realizado hoje, num evento na Serasa Experian, o primeiro encontro entre empresas, sociedade civil e governo para criar o Fórum de Empregabilidade da Pessoa com Deficiência, uma iniciativa da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, da Serasa Experian e do Instituto Ethos. O objetivo é reunir num mesmo espaço de debate os três setores da sociedade – empresas, governos e ONGs – para discutir as possíveis soluções para a inclusão dos deficientes no mundo do trabalho.
A Lei 8213/91 que estabeleceu as cotas para deficientes contribuiu ao menos para pôr na pauta do empresariado a questão da inclusão das pessoas com deficiência. Mas ela ainda não produziu efeitos práticos na sociedade. Os deficientes continuam sem oportunidades no mercado de trabalho. A última versão (2007) do Perfil Social Racial e de Gênero mostra um retrocesso entre 2003 e 2007 nos cargos ocupados por deficientes.
Em 2003, havia 3,5% de deficientes em cargos de média e alta gerência. Em 2007, este número caíra para 2%. Como as soluções dependem de um esforço conjunto de toda a sociedade, o Fórum anunciado hoje pode se constituir no impulsionador desta mudança significativa no mundo do trabalho no Brasil.
Por isso, é importante participar já das próximas etapas de construção deste fórum. Para isso, basta enviar um email para programa.empregabilidade@br.experian.com

Este tema foi comentado no programa CBN Total de 11 de setembro de 2009. Clique aqui para ouvir.

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